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Foto do escritorGustavo Candiota

Fazer câmbio "aos poucos". Será que vale mesmo a pena?


Quando se fala de câmbio no Brasil, é comum o aparecimento de alguns "especialistas" dando diversas dicas infalíveis para economizar na compra da moeda estrangeira desejada. Comprar em "oscilações favoráveis", comprar "na baixa pra vender na alta" ou aguardar avisos de "momento ideal". Por último, também vem a dica padrão do "compre aos poucos".

Dentro desta lista de sugestões, que podemos melhor definir todas como nada mais do que especulações, temos apenas uma que tem lógica: comprar sua moeda "aos poucos". O chamado "preço médio". Ou, em linguagem mais técnica: fazer um hedge cambial.

É tipo a dica quente, unânime e inquestionável quando se fala de câmbio: "divida a compra de seus dólares em várias partes para fazer um bom preço médio!". Vemos postagens em blogs com esta sugestão, entrevistas na televisão, nas rádios e até palestras onde o conteúdo todo de 20 ou mais slides se resume no final a algo tipo: "compre sua moeda aos poucos e seja feliz." Mais: dão a entender que quanto mais dividir, melhor! Aí é que está o X da questão.

Será que vale a pena dividir sua compra de moeda (ou remessa) em muitas partes sempre? Sempre mesmo?

Queremos explicar porque, na nossa opinião, não!

Tudo depende da quantidade desejada. Quanto maior for o volume de câmbio, mais o hedge cambial se torna vantajoso para diluição de risco, ou seja, redução da oscilação dos preços. Vamos tentar, através de um exemplo, explicar porque nestes casos tomar esta decisão é válida e em qual situação pode não ser. Veja abaixo.

Situação: embarco ao exterior no final do ano, vou passar o réveillon em Nova York, na Times Square.

Como está o câmbio hoje? 3.30

O que faço? Qual a previsão do câmbio para o fim do ano? Resposta: ninguém sabe ao certo, só temos especulações.

Então...

Cenário 1 - Quero comprar 5 mil dólares. Vou dividir em 2 partes.

Cenário hipotético:

Compra-se metade hoje (2500 x 3.30) e a outra metade no fim do ano. Se até lá tiver subido, digamos, para 3.50 (2500 x 3.50), seu preço médio ficou em... 3.40. Ou seja, houve proteção, pois se você tivesse comprado os 5 mil no fim do ano, sua taxa seria: 3.50! Importante: independente se, APÓS chegarmos no fim do ano, percebemos que a moeda subiu e que "teria sido muito melhor se eu tivesse comprado tudo em outubro", você se protegeu das oscilações. Você não tinha como saber se ia cair ou subir, então, na dúvida, fazer a divisão protegeu seu capital. Lembre-se: subiu, mas podia ter caído. E se caísse, você estaria feliz que não comprou tudo de 1 vez em outubro.

Cenário 2 - Quero comprar 5 mil dólares. Vou dividir em 5 partes.

Cenário hipotético igual.

Pergunta: agora, será que vale a pena seguir a dica de alguns "especialistas", quando falam pra comprar em VÁRIAS partes? Vamos ver:

Compro 1/5 hoje (1000 x 3.30)

+ 1/5 em 15 dias (1000 x 3.35)

+ 1/5 em 15 dias (1000 x 3.40)

+ 1/5 em 15 dias (1000 x 3.45)

+ 1/5 em 15 dias (1000 x 3.50) - por volta de 20 de dezembro a ultima parte - = .....

Quanto deu o preço médio após seguirmos a dica de dividir a compra em diversas partes? (rufem os tambores)........ adivinhe? 3.40. A mesma coisa!

E aí, valeu a pena, ao invés de 2 compras, fazer 5? Neste caso, NÃO. Valeria se, por exemplo, na segunda compra, o câmbio tivesse desabado para, digamos, R$ 3,00, puxando forte o preço médio para baixo lá no final. Como no cenário 1 você não fez nenhum cambio naquela data, a oportunidade foi perdida. Mas não esqueça, poderia também ter acontecido de o dólar disparar no mesmo momento. Aí o fato de ter perdido a oportunidade trouxe sorte.

Amigo leitor, estou conseguindo explicar o raciocínio? É claro que quanto mais parcelas, mais diluído o risco, mas é aí que queremos reforçar: se a quantidade de moeda desejada é pequena, e quando falamos pequena, menos do que 20 mil dólares, não é benéfico.

Veja: No cenário 2 você possivelmente gastou 5 tarifas de TED, 5 (ou mais) ligações telefônicas, talvez 5 ou mais idas e vindas até a corretora para coletar a moeda - exceto se a casa de cambio permitiu que você mantivesse tudo sob custódia deles até a última compra (duvido) - desperdiçando gasolina, estacionamento - exceto se tiver convênio - e muito mais envolvimento do seu tempo em algo que poderia tomar bem menos. E tempo é dinheiro. O tempo que você gasta especulando com câmbio, pode ser dinheiro que você perde ao deixar de se envolver com outras coisas mais importantes. Mas falando de gastos indiretos mais palpáveis, fazendo estas 3 compras a mais podemos dizer que foram jogados fora aproximadamente R$ 100 reais. Tudo isso pra no fim o preço médio ser praticamente o mesmo!

E você nem sabe! Tem profissional do câmbio que sugere dividir em 5 compras um montante de 1000 dolares... ou menos! Imagina a trabalheira pra nada! Ou melhor, pra algo sim: prejuízo!

Caso a explicação de cada cenário tenha ficado confusa, vamos resumir em poucas palavras: quer fazer preço médio e proteger-se da oscilação, abandonando o campo da especulação estilo "vou achar o momento ideal" e comprar em mais de uma vez? Ok, perfeito. Lá vai a dica quente: no momento que você optou por DIVIDIR a compra, compre em 2 partes. Não mais que isso. Uma hoje, outra na véspera do seu embarque. Fim. O preço médio será o mesmo, sempre. É matemática simples. A não ser, claro, que durante o período, você decida mudar o montante final. Faça as contas após sua viagem e me diga se valeu a pena!

Tenham todos um ótimo fim de semana.

Att

Gustavo Candiota

Diretor GC Prime Câmbio Inteligente

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